A mãe solo financeiramente independente que não cobra pensão alimentícia - um olhar sobre os direitos da criança

Muitas mães solo no Brasil, por serem financeiramente independentes, optam por não cobrar a pensão alimentícia do pai de seus filhos. Essas mulheres são fortes, trabalham arduamente, garantem o sustento de seus filhos e se orgulham de não depender financeiramente de ninguém, incluindo o pai da criança. Essa independência é admirável, mas é fundamental lembrar que a pensão alimentícia é um direito da criança, não da mãe. A pensão não é uma questão de orgulho ou independência da mãe, mas sim uma forma de garantir que o pai cumpra seu papel na criação e no bem-estar do filho. Quando uma mãe opta por não cobrar a pensão, ela pode estar, sem perceber, privando a criança de recursos que poderiam fazer diferença em sua vida ? seja na educação, saúde, lazer ou até na formação de um futuro mais sólido.

Muitas dessas mães acreditam que, por estarem financeiramente estáveis, não precisam do valor da pensão. No entanto, o que muitas não percebem é que a pensão alimentícia não se trata apenas de uma ajuda financeira imediata para despesas básicas, como alimentação, moradia e saúde. Ela pode ser utilizada para proporcionar oportunidades que vão além dessas necessidades essenciais, como educação de qualidade, atividades extracurriculares, cursos que possam estimular o desenvolvimento da criança, viagens e outras experiências que contribuem para o crescimento integral dela. Ao não cobrar a pensão, a mãe também está tirando a responsabilidade do pai, que, por mais que não esteja presente no dia a dia, tem a obrigação legal e moral de contribuir para o bem-estar do filho.

Além disso, a ausência desse apoio financeiro pode deixar a criança vulnerável em situações imprevistas, como em caso de perda de emprego ou problemas de saúde da mãe, situações que podem afetar a estabilidade financeira da família. Outro ponto crucial é o efeito psicológico dessa decisão. A criança, ao perceber que o pai não contribui financeiramente para sua vida, pode sentir-se desvalorizada ou até questionar o motivo de sua ausência e falta de envolvimento.

A pensão alimentícia, embora financeira, tem um peso simbólico de reconhecimento e responsabilidade. Uma solução para essa situação é simples, mas exige uma mudança de mentalidade. A mãe solo financeiramente estável precisa reconhecer que, embora consiga prover tudo que o filho necessita, a pensão alimentícia é um direito da criança. Não se trata de se sentir independente ou forte, mas de garantir que o pai participe, mesmo que de forma indireta, da criação e desenvolvimento do filho.

O valor recebido pode ser utilizado em benefício direto da criança ou, caso a mãe já cubra todas as necessidades, pode ser investido em uma poupança ou fundo de investimentos para o futuro da criança. Esse recurso pode servir para pagar estudos superiores, realizar intercâmbios, adquirir uma casa própria ou até mesmo iniciar um negócio no futuro. Além disso, cobrar a pensão alimentícia pode ajudar a fortalecer a ideia de corresponsabilidade do pai. Mesmo que ele não esteja presente fisicamente, o apoio financeiro demonstra que ele reconhece a necessidade de contribuir para o bem-estar do filho.

Conheça a história da Carla e seu filho João.

Carla é uma engenheira de sucesso e mãe de João, de 8 anos. Desde que João nasceu, Carla sempre foi capaz de prover tudo o que o filho precisava, sem depender do ex-marido, Marcos. Ela nunca cobrou a pensão alimentícia, pois acreditava que não precisava do dinheiro e preferia manter sua independência. Porém, ao longo dos anos, Carla começou a perceber que estava abrindo mão de um direito importante do filho. Certa vez, João foi convidado para participar de uma viagem escolar internacional, um intercâmbio educacional que poderia abrir portas para o futuro dele. No entanto, o custo da viagem era alto, e embora Carla tivesse condições de pagar, isso representaria um sacrifício financeiro significativo. Ela começou a refletir sobre as decisões que havia tomado no passado. Se tivesse cobrado a pensão de Marcos ao longo dos anos, teria uma poupança destinada a essas oportunidades especiais para João. Mais tarde, conversando com uma amiga, Carla decidiu procurar um advogado e entrou com um pedido de pensão alimentícia. Marcos, que há anos estava ausente na vida financeira de João, foi surpreendido, mas concordou em contribuir mensalmente. Carla decidiu depositar o valor recebido em uma conta poupança para o futuro de João, garantindo que ele pudesse contar com esse recurso em situações especiais, como viagens, educação ou qualquer necessidade futura. João ainda não compreende totalmente as decisões que Carla tomou, mas ela agora se sente tranquila, sabendo que fez o certo para garantir um futuro mais próspero para o filho.

A pensão não diminuiu sua independência, mas assegurou que João tivesse ainda mais oportunidades e que Marcos cumprisse o papel que lhe cabia como pai.

Enfim, mães solo que são financeiramente independentes muitas vezes optam por não cobrar a pensão alimentícia, acreditando que não precisam do dinheiro do pai da criança. No entanto, essa decisão pode causar prejuízos a longo prazo para o filho, que tem o direito a esse recurso, independentemente da situação financeira da mãe. A pensão alimentícia é uma forma de garantir que ambos os pais cumpram suas responsabilidades e contribuam para o bem-estar e o futuro da criança.

É hora de mudar essa mentalidade e entender que cobrar a pensão não é uma questão de dependência, mas de assegurar os direitos da criança.